Em hipótese nenhuma estamos falando de dispensar o médico cirurgião ou as mãos humanas, como o título pode ter de sugerido pensar. A cirurgia robótica veio para trazer vantagens à grande parte das cirurgias e, definitivamente não dispensa o médico, e isso não deve acontecer por algumas décadas.
Já há alguns anos, a cirurgia robótica tem sido importante alternativa para cirurgias de abdomen e colorretal. No início, foi amplamente usada para cirurgias de próstata, com grande sucesso em seus resultados funcionais. Por esse motivo se difundiu e justificou o investimento nesse equipamento milionário por parte de hospitais em todo o mundo.
A história oficial conta que o robô para cirurgia foi desenvolvido pelos militares americanos para possibilitar cirurgias à distância em situações de guerra, com um cirurgião operando de um hospital em outro continente pacientes que estivessem em áreas de guerra. Apesar dos altos investimentos, por dificuldades técnicas não foi adiante para esse fim e a tecnologia foi direcionada para cirurgias fora de ambientes inóspitos.
Funciona assim: uma parte do equipamento é o console onde fica o cirurgião, que manipula controles que movem os instrumentos que estão na outra parte do robô, que tem os braços onde se ligam as pinças que vão no paciente. Quem mexe é o cirurgião, olhando através de uma câmera 3D de alta definição, que permite enxergar e entender os detalhes da anatomia. O robô refina os movimentos e os faz sem tremer, com mais precisão. Há pouco tempo essa tecnologia chegou a Campinas, e está disponível para pacientes da região.
Por que você deve conversar com seu médico sobre esta possibilidade? Porque os braços e pinças robóticas têm movimentos mais finos, delicados, que permitem fazer cirurgias em locais com menos espaço, como é por exemplo a pelve.
Várias áreas da cirurgia migraram para a robótica, com sucesso maior ou menor. No geral, todas a áreas que exigem movimentos mais precisos em espaços mais confinados se beneficiaram inicialmente com essa tecnologia, mas em seguida todas aquelas que necessitam de mais delicadeza também tiveram grande benefício. A Coloproctologia foi uma das principais.
A justificativa inicial para uso da robótica foram as cirurgias do reto, que é a porção final do intestino grosso e fica habitualmente apertado na pelve. É uma cirurgia que exige movimentos finos, já que várias estruturas importantes estão ao seu redor, especialmente em homens, que tem pelves mais estreitas. No entanto, a delicadeza de movimentos, visão 3D em alta definição, e ergonomia para o cirurgião, fizeram com que pudesse ser usado em quase todas as cirurgias do abdome, com grande ganho para todos.
Permite uma melhor manipulação e uma magnificação dos movimentos tridimensionalmente, melhorando a ergonomia. Apesar do custo elevado e de exigir um treinamento muito específico do cirurgião, o robô é capaz de cirurgias mais delicadas, com estabilidade de pinças e câmera, com menos trauma no paciente, o que pode se traduzir em cicatrizes menores, menor tempo de internação, menos dor, menos perda sanguínea, recuperação mais rápida e menos complicações pós-operatórias aos pacientes e, isso habitualmente justifica o maior custo para seu uso.
O cirurgião passa o tempo todo da cirurgia sentado de maneira confortável, chegando menos desgastado para realizar as etapas finais da cirurgia, que pode eventualmente ser longa, com mais segurança e destreza. Além disso, especificamente na coloproctologia, as dissecções pélvicas passaram a ser feitas com melhor visualização e preservação dos nervos responsáveis pelas funções urinárias e principalmente sexuais, melhorando resultados dessas funções.
Por conta de todas essas virtudes, o paciente se beneficia muito do pós-operatório com dor mínima, menor uso de analgésicos, e recuperação mais rápida. Em princípio, toda cirurgia do abdome e pelve pode ser feita com essa tecnologia. Os resultados são muito superiores à cirurgia aberta, com menos complicações intra e pós-operatória.
Assim, se houver a necessidade de cirurgia, verifique com seu médico se a cirurgia robótica pode ser uma boa opção!
Dr. Gustavo Sevá Pereira é Membro Titular e Especialista das Sociedades Brasileiras de Coloproctologia e de Endoscopia Digestiva e do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Coordenador do Grupo de Coloproctologia do Hospital Mário Gatti de Campinas e aficionado por Cirurgia Colorretal.
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