Cirurgia Digestiva e Colorretal

#intestinoimporta

As cores e os meses do ano parecem ter entrado de vez no cotidiano da população. As campanhas populacionais de saúde adotaram há algum tempo o azul para o mês de novembro e o rosa para outubro, para conscientização de prevenção do câncer de próstata e mama, respectivamente. E merecem, por serem os dois cânceres mais frequentes na população. Em seguida, de acordo com as estatísticas do Instituto Nacional do Câncer, alternam pulmão e intestino com o terceiro lugar.

Há alguns anos a Sociedade Brasileira de Coloproctologia assumiu a campanha Setembro Verde, com a intenção de conscientizar para a importância da prevenção do câncer colorretal. Apesar do mês de setembro ser bem concorrido para associação com campanhas específicas (amarelo para prevenção de suicídio, verde para doação de órgãos), a prevenção de câncer colorretal tem características bastante peculiares, e a mais importantes delas é que entre os tumores mais frequentes, é o único que realmente se faz a prevenção. Mama e próstata permitem detecção precoce, para tratamento mais eficaz do câncer, mas no intestino efetivamente se faz prevenção quando se realiza colonoscopia e se retira pólipos, que são pequenos tumores benignos com chance de se transformar em malignos. Assim, trata-se da doença maligna mais prevenível que existe.

O câncer de intestino habitualmente acomete pessoas entre 50 e 70 anos. Sabe-se, no entanto, que pólipos demoram cerca de 8 a 10 anos para se tornarem malignos, e por isso é que a prevenção deve se iniciar bem antes. Recentemente houve bastante divulgação de uma mudança em uma recomendação formal americana para se iniciar a realização de prevenção a partir de 45 anos, e não mais 50, como é feita no Brasil, para pacientes assintomáticos. Sabe-se que o fato de atingir uma certa idade faz com que o indivíduo passe a ter risco mais alto, de maneira que se considera de baixo risco qualquer indivíduo sem sintomas e sem antecedentes familiares importantes antes dos 50 anos e depois disso passa a ser de risco moderado. A frequência da realização de exames depende desses antecedentes, mas também dos achados em colonoscopias que já foram realizadas.

É importante ressaltar que o intervalo entre o início da formação de um pólipo benigno e a sua transformação em câncer é um longo período, de vários anos, em que se deve realizar a prevenção. É uma fase importante, que se negligenciada, pode-se perder o tempo de prevenção ou de cura de uma doença grave. Basta diagnosticar antecipadamente esses pólipos intestinais e retirá-los, quebrando-se o ciclo vital da doença em cerca de 75% das vezes. É realmente muito mais simples do que muitos imaginam. Infelizmente muitos chegam aos nossos consultórios e ambulatórios com tumores em fase avançada, sem possibilidades de cura. Muitas vezes são pacientes muito novos, para os quais seguramente haveria uma cura se realizada a prevenção e/ou detecção mais precoce do tumor. O câncer de intestino detectado em fase inicial tem alta chance de cura. No entanto, por conta desses casos em que a prevenção é negligenciada e tumores muito avançados são diagnosticados, a taxa geral de cura não passa de 60% dos pacientes.

Considerando tudo isso, é uma grande alegria saber que as pessoas conscientes da necessidade de se realizar essa prevenção tem aumentado. A grande maioria dos médicos já tem essa consciência de identificar e orientar pacientes de risco. Da mesma maneira, a população tem procurado mais os serviços de saúde com essa intenção. Lembro ainda, que além de prevenir, é fundamental que o diagnóstico seja feito de maneira correta e o estabelecimento da melhor conduta seja feito por especialista habituado a tratar câncer de intestino.

Não por acaso, o Congresso Brasileiro de Coloproctologia – por coincidência também realizado tradicionalmente em setembro – estava repleto de palestras e ações visando a prevenção e tratamento do câncer colorretal.

Foi lançada uma grande campanha nacional com o tema campanha “Não é sorte, é prevenção e cuidado” que pode ser verificada no site da Sociedade (www.portaldacoloproctologia.com.br). Foi também iniciado um esforço para impulsionar nas redes sociais as hashtags #setembroverde e #intestinoimporta.

Muitos momentos na vida de um coloproctologista podem ser considerados gratificantes, mas talvez nada seja mais belo do poder dizer a um paciente que está curado de um câncer.

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